Kuando Moita se sentia em apertos, chamava pelo Dr. Martinha, uma espécie de delegado do governo junto do RCP.
E Moita de Deus chamou o Dr. Martinha kuando não soube o que fazer com uma entrevista a José Cardoso Pires, no lançamento de O Delfim. Ouviram e voltaram a ouvir a entrevista, montada com a leitura de excertos do romance, e não sabiam o que cortar. Por fim, comunicaram-me que a entrevista era autorizada, mas com o corte de uma passagem de texto do romance. Ao que lhes respondi que teriam que falar com o autor do livro, pois iam cortar uma passagem de um texto publicado.
Cardoso Pires acedeu deslocar-se ao RCP - onde aliás passava com frequência - e deu a volta às cabeças dos censores. Passou tudo: o discurso directo da entrevista e o discurso indirecto do romance. Inclusive a frase em que os censores pressentiam um sentido oculto: «Espalmada na inscrição imperial, havia uma lagartixa. Parda, imóvel, parecia um estilhaço de pedra (…) um estilhaço sensível e vivaz debaixo daquele sono aparente. Pensei: o tempo, o nosso tempo amesquinhado».
O Moita era intocável. Mas nem o Martinha era inquebrável…
j.p.g.
De
Paulinho a 5 de Novembro de 2011 às 03:13
* DR.MARTINHA O DIRECTOR DA CENSURA * Nos anos 60/61 o RCP ainda não tinha configurado o eskema k mais tarde k todos viriam a adoptar. Vejamos: pekenos espaços informativos editados à hora certa (os INTERCALARES). A jovem ekipa RCP (os \"Noticiaristas) chefiada pelo Luis Filpe Costa, acessorado por mim e pelo Justino Moura Guedes lutava para obter duma Administração conservadora uma mais ou menos independente Informação liberta da Emissora Nacional - a VOZ DO DONO - o k só viria a acontecer em 1.963. Adiante. Vamos ao dr. Martinha k em 61 era o Director da Censura e aos acontecimentos em Goa. Estava eu nessa manhã de Dezembro/61 de serviço kuando às 8.20h. o tin-tin-tin do Telex da France-Press me despertou. Um texto com uma linha sòmente: \" PANGIM 19 - Tropas indianas ocuparam Goa. FP\" Como as NOTAS DE CENSURA levavam tempo a chegar não levei tempo a actuar. Liguei para casa do dr. Martinha no Estoril e lendo o Telex indaguei: \"- POSSO DAR A NOTICIA?\" Segundos de meditação e a resposta: \"- PODE\" .Corri p/a cabina onde o Henrique Mendes acabara de iniciar a \"ONDA DO OPTIMISMO.\" Li a noticia acrescentando: \"MAIS DETALHES NO NOTICIÁRIO DAS 8.45\". (na altura o Jornal da Manhã era emitido a essa hora). E assim foi. No Jornal das 8.45 somei à noticia já tornada publica: \"AS FORÇAS PORTUGUESAS RENDERAM-SE. APENAS NO INTERIOR SE VERIFICAM COMBATES ESPORÁDICOS COMBATES.\" Voltei para o Gabinete-Redacção. Soou o telefone. A voz angustiada do dr. Martinha: -JÁ DEU A NOTICIA? Respondi: \"- JÁ. E POR DUAS VEZES.\" Dr. Martinha: \"- NÃO DÊ MAIS!\" e, num ténue-audivel antes de desligar: \"- ESTOU LIXADO...\"e estava
Havia sempre um Martinha acima de cada Moita e um Big Brother acima de cada Martinha. Lá em cima estava o Tiro Liro, o Botas, propriamente dito.
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