Nos idos de 60/70, como grande parte dos jovens desse tempo, houve uma fase em que usei grandes barbas e cabelame que me faziam parecido com o baterista dos Marretas. A verdade é que ninguém tinha nada com isso. E menos ainda o director dos serviços de censura interna do RCP, António Augusto Moita de Deus, o Arbusto Divino, ou o Moita-Carrasco, conforme os gostos. Ele que cortasse textos ou fitas de arrasto; na minha barba e cabelo não tocava.
Pois certa vez, estando eu a tomar um abatanado no bar O Coice, lugar mal frequentado por gente de rádio e acompanhantes, entrou o Moita e rosnou, como era seu timbre. Vinha sozinho. A esposa também frequentava O Coice, onde pedia habitualmente uma sandes aparada e, para beber, um Triplice, assim chamado em português corrente ao licoroso Triple sec. Verdade. Há testemunhas.
Ora naquele dia, o Moita, que ainda não tinha embirrado com ninguém, decidiu investir contra mim.
- Você, ahn, com esses cabelos e essas barbas, ahn, qualquer dia nem as mulheres olham para si.
Respondi-lhe delicadamente, em voz muito baixa:
- Elas não olhariam para mim se eu fosse…
E depois, colocando e elevando bem a voz de locutor:
- … Estúpido.
O pessoal que frequentava O Coice naquele momento só ouviu a última palavra, gritada sonoramente na cara de Moita. E então não é que ficou a constar no Rádio que eu tinha chamado estúpido ao Senhor Moita de Deus?
Mas eu era lá capaz de chamar estúpido ao estúpido do director da censura?!
j.p.g.
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